quarta-feira, 30 de junho de 2010

CEMITÉRIO VELHO - PARTE II

Por mais que os nossos pais nos avisassem para que lá não fôssemos, por para nos amedrontar diziam “cobras e lagartos”, coisas como: que poderíamos pegar doenças terríveis, pois o lugar era contaminado; que haviam cobras venenosas – o que no fundo não era mentira, pois matávamos muitas delas, venenosas, tipo: coral, cascavel... Outras, não, tipo: papa ovas, mucuranas (cobra preta) etc. ... Mas nada do que nos diziam e até mesmo os castigos não nos dissuadiam ou muito pelo contrário: algo de mágico, invisível e misterioso empurrava-nos cada vez mais para o nosso refúgio (Cemitério Velho). Ali era nosso terreno. Conhecíamos cada passo, cada túmulo, cada catacumba. Eles eram nosso parceiros e confidentes. Tinham aquela toda de mármore preto e branco com um epitáfio de letras douradas e foto em alto relevo. Pertencia a um general – não lembro o nome – data de mil e oitocentos e qualquer coisa. Nós olhávamos com admiração – general; mármore; luxo; riqueza – muitas vezes até evitávamos de apedrejá-la, pois era a nossa preferida. Tinha aquelas já abertas e corroídas pelo tempo. Aquela outra que, à noite, servia de dormitório para um maluco da época – Chico Doido. Além de muitas outras, cada qual com suas peculiaridades.

O certo é que ali, no cemitério velho, tínhamos tudo o que queríamos para realização de nossas incontáveis brincadeiras... Conhecíamos palmo a palmo o nosso reduto. Pulávamos por cima dos túmulos e catacumbas com a agilidade de um bando de babuínos, na copa das árvores.

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