segunda-feira, 28 de junho de 2010

A Praça do Amor

A emenda foi pior do que o soneto! Pois é, a Pracinha do Amor era aquilo mesmo: uma praça do interior; mas muito charmosa muito verde, muito aconchegante, além de bela.Não foi à toa que recebeu esta auspiciosa alcunha, pois todo dia, fosse lá que hora fosse, havia um casal numa entrevista amorosa, num idílio, num carinho! Isto era certo como dois e dois são quatro.Ali muitos namoraram, noivaram e até casaram.
Ao cair da tarde os velhos vinham contemplar a paisagem marinha, ver os pássaros em revoada, cruzando o Rio Camocim de volta para os ninhos nos manguezais e sentir a maresia e a aragem do Aracati até o desponhar das estrelas, e, à noite, jovens irrequietos, como é próprio da juventude, explodindo de vida, compareciam aos pares, dando ainda mais beleza ao ambiente. Mas isto tudo é coisa do passado, pois arrebeteram com o pobre Pracinha do Amor com o intuito de fazerem, uma outra moderna e suntuosa naquele local."Seria uma coisa linda,linda'', afirmativa feita a todo instante aos quatro ventos.Não foi! A lindeza, se é que havia, ficou só no papel. Na verdade, o que se vê é uma coisa horrível e triste. Conseguiram transformar num deserto aquele oásis que era aquela pracinha. Ainda na fase de construção nazista.
Depois assentaram lá uns bancos de barrotes que se arqueiam pela ação do sol e do sal e que nunca serve de assento por estarem sempre salitrados pela maresia. Ainda não satisfeitos com isso, fizeram umas edificaçães extravagantes com formatos divertidos e curiosos, algumas delas postadas bem no meio do raio de visão dos becos, contraiando assim o sonho de visão ampla e irrestrita do mar, de qualquer ponto da cidade, que um dia teve Raimundo Cela. Outras, enfileiradas, arremedo de casamatas e do muro de Berlim, priva o transeunte da vista panorâmica das Barreiras e das velas que deslizam pelo mar.
Tal absurdo chocou os " Idosos e Vaidosos " quando da última visita deles á nossa cidade. " Como puderam fazer isto com a gente ? ", indignaram-se. Puderam sim Senhores! Tudo em nome de um falso progresso. O certo é que não tem um visente, daqui ou de fora, que não abomine a tal mal- acabada e, no mínimo, muito estranha. Bem disse o amigo Leonardo quando viu pela primeira vez aquelas edificações absurdas de que falei: " Quem largou esse contêineres aí ? " Não é que o danado definiu tão bem aquilo! Parecem mesmo com que disse. É um amontando deles!
Talvez um dia, imitado os cariocas, nossos jovens marquem seus encontros assim: " Te espero, como sem falta, no contêiner seis pelas oito de noite. "
É isso aí, " mercadoria " , resta o consolo de saber que eu não tive culpa nisto; sinceramente, que um dia alguém de mais sensibilidade que os mandatários de agora mandem desfazer este malfeito.



( Publicado no " O Literário " . Ano II, Edição 13, novembro de 2000, p. 5. Camocim-CE ).

2 comentários:

Anônimo disse...

Lugar de encontros e de muitas amizades!

Anônimo disse...

Nossa praça nossa patrimonio de todos os encontros .